E como fica o parto e pós-parto em tempos de COVID-19? (PARTE II)
A Amamentação
Continuando nossa série sobre os cuidados obstétricos frente a atual pandemia, seguimos com a fase da amamentação. Separamos um post exclusivo para tratar sobre esse assunto.
Assim como em 2009, houve uma grande incidência de desmames por ocasião da gripe H1N1, tememos que o mesmo possa acontecer agora com a crise do COVID-19.
Embora o Protocolo mencionado no post anterior, desestimule o aleitamento quando confirmado o COVID-19, o Ministério da Saúde em parceria com a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH), Sociedade Brasileira de Pediatria e outras importantes instituições de atenção à lactantes e bebês, em nota técnica divulgada em 19/03/2020, incentiva a continuidade do aleitamento materno em mães acometidas pelo vírus.
O documento menciona pesquisa realizada por Chen et al. para a averiguar a possibilidade de transmissão vertical do vírus e não encontraram no líquido amniótico, sangue do cordão umbilical ou leite materno a presença de vírus em seis lactantes com pneumonia causada pelo COVID-19.
Todos os órgãos reafirmam a importância do aleitamento para a prevenção de muitas doenças e sugerem que mães infectadas utilizem máscara ao amamentar o seu bebê, além das medidas corriqueiras como a correta lavagem das mãos antes das mamadas. O Royal Collegeof Obstetricians and Gynaecologists (RCOG) enfatiza ainda que, com esses devidos cuidados, mãe e bebê podem permanecer em alojamento conjunto até a alta hospitalar.
Portanto, não há recomendação para a suspensão do aleitamento materno na transmissão de vírus respiratórios e recomenda-se que a amamentação seja mantida em caso de infecção pelo COVID-19 desde que a mãe deseje amamentar e esteja em condições clínicas adequadas para fazê-lo.
Se a mulher não se sentir segura em amamentar enquanto estiver com o Coronavírus, recomenda-se que ela seja instruída a ordenhar o leite materno e ofertar à criança.
A nota técnica recomenda as seguintes precauções:
1) Lavar as mãos por pelo menos 20 segundos antes de tocar o bebê ou antes de retirar leite materno
2) Usar máscara facial cobrindo completamente nariz e boca
3) Trocar a máscara imediatamente em caso de tosse ou espirro
4) Trocar de máscara a cada mamada
5) Seguir as orientações de ordenha manual segundo a “Cartilha Mulher trabalhadora que Amamenta” do Ministério da Saúde:
- Retire anéis, pulseiras e relógio.
- Coloque uma touca no cabelo e amarre um lenço/tecido limpo na boca ou use máscara.
- Lave as mãos e os braços até o cotovelo com água e sabão.
- Seque as mãos e as mamas com papel-toalha (evitando deixar resíduo de papel) ou com um pano limpo.
- Você já terá deixado preparado o frasco que vai utilizar para a coleta.
- Procure estar relaxada, sentada confortavelmente, respirar com calma e pensar no bebê.
- A seguir, inicie a massagem! Faça movimentos circulares com a ponta dos dedos em toda a aréola (parte escura da mama).
- Continuando, massageie toda a mama, mantendo os movimentos circulares.
- Coloque o polegar acima da linha que delimita o fim da aréola e ponha os dedos indicador e médio abaixo dela.
- Firme os dedos e empurre-os para trás em direção ao tronco.
- Aperte o polegar contra os outros dedos com cuidado, até sair o leite.
- Não deslize os dedos sobre a pele. Aperte e solte, aperte e solte muitas vezes.
- Despreze os primeiros jatos ou gotas.
- Em seguida, abra o frasco e coloque a tampa sobre a mesa, com a parte interna voltada para cima.
- Proceda à coleta manual ou com bomba.
- Após terminar a coleta, feche bem o frasco, guarde-o no congelador ou no freezer, certificando-se de que o recipiente esteja identificado com nome, data e horário do início da coleta.
- O prazo de validade do leite é de 12 horas, se guardado na geladeira. Caso queira congelar o seu leite, ele deve ser congelado logo após a sua retirada. A validade, neste caso, é de 15 dias no freezer ou no congelador.
6) Seguir rigorosamente as recomendações para limpeza das bombas de extração de leite (caso esteja fazendo uso) após cada utilização
7) Considerar a possibilidade de alguém que esteja saudável oferecer o leite materno em copinho, xícara ou colher para o bebê
Esta nota técnica conclui que novos estudos são necessários e que as recomendações podem mudar a qualquer momento.
Mantenhamo-nos informados!
Referências:
Prevenção e Abordagem da Infecção por COVID-19 em mães e Recém-Nascidos, em Hospitais-Maternidades – Departamento Científico de Neonatologia (2019-2021) • Sociedade Brasileira de Pediatria – Março, 2020.
Protocolo de Manejo Clínico do Novo Coronavírus (COVID-19) na atenção primária à saúde Secretaria de Atenção Primária à Saúde – Brasília – DF – Março, 2020.)
NOTA TÉCNICA Nº 7/2020-DAPES/SAPS/MS – Departamento de Ações Programáticas Estratégicas – Secretaria de Atenção Primária à Saúde – Ministério da Saúde – Março, 2020
Chen H, Guo J, Wang C, et al. Clinical characteristics and intrauterine vertical transmission potential of COVID-19 infection in nine pregnant women: a retrospective review of medical records. Lancet 2020; 395: 809–15
Royal College of Obstetricians and Gynaecologists. Coronavirus (COVID-19) Infecon in Pregnancy. Information for healthcare professionals. Version 1: Published Monday 9 March, 2020. Disponível em https://www.rcog.org.uk/globalassets/documents/guidelines/coronavirus-covid-19-virus-infection-in-pregnancy-2020-03-09.pdf. Acesso em 11/3/2020.
Cartilha Mulher trabalhadora que amamenta, MS – Brasil, 2015, disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_mulher_trabalhadora_amamenta.pdf;